A oração contribui para a melhora de uma pessoa doente? Há quem afirme que a oração pode curar, e há, também, aqueles que afirmam que oração não promove cura. Tema já debatido muitas vezes, mas há uma tendência em se acreditar que a oração tem um poder de contribuir com a cura de uma pessoa.
Como pensa o judaísmo? A religião judaica dá um valor único à prece. Recomenda-se que o judeu cumpra, ao menos, suas orações diárias, pois estas substituem o serviço que era realizado no Templo de Jerusalém. Também são feitas orações aos doentes, no entanto, não se afirma que a oração tenha o poder curar. Crê-se que Deus acolhe as preces de uma pessoa que se preocupa com o bem-estar de outra, muito menos deixará de atender às orações daqueles que sofrem. Todavia, Ele deu ao ser humano a inteligência para desenvolver seu conhecimento e aprender as técnicas de prevenção e tratamento de doenças. Entregou, portanto, a nós, o dever de lutar contra os males que nos atingem. Assim, devemos empenhar-nos ao máximo e confiar que Deus fará sua parte. Enfim, Deus reparte com cada pessoa a responsabilidade de cuidar de sua criação.
No judaísmo nada é mais sagrado do que a vida. É um dever de cada judeu lutar em seu favor. Tanto que, nem o mais sagrado de todos os mandamentos está acima do dever que se tem para com a vida. Os médicos, enfermeiros, motoristas de ambulâncias, funcionários de hospitais, aqueles que trabalham em defesa da vida, estão dispensados de cumprir mandamentos que os impeçam de atender aos enfermos e aos que estão em risco de morte.
Lutar pela vida, como fazem os profissionais da saúde, através da prevenção de doenças e do atendimento nas clínicas e hospitais, é um dever sagrado. No entanto, há limites impostos pelas condições físicas das pessoas atendidas, pelo estado em que se encontra a enfermidade, pela técnica disponível, condições materiais, etc. Tais condições, muitas vezes, não permitem o sucesso, e a vida escapa das mãos humanas. Uma pessoa que tem a oração como prática diária certamente terá mais facilidade em compreender os limites humanos diante da vida e, entregará, sinceramente, nas mãos de Deus essa vida para que Ele a acolha.
Há uma história de um homem de fé simples. Quando estava com oitenta anos passou por diversas cirurgias e, a cada uma, ficava mais debilitado. No hospital, todas as manhãs, punha os tefilim (duas pequenas caixas de couro com tiras usadas pelos judeus nas preces da manhã), fazia as orações e recitava os tehilim (salmos). Isto o deixava mais forte. Sentia-se seguro nos braços de Deus. Quando percebeu que não tinha mais muito tempo de vida pediu aos filhos que rezassem por ele. Para o velho homem a prece era vida, e a vida, uma forma de prece.
Talvez a vida que pedimos e desejamos não seja aquela que Deus considera necessária e melhor. A Torá ensina que mais vale uma vida vivida intensamente na presença de Deus do que uma vivida sem sentido ou voltada para as coisas miúdas e efêmeras. A longevidade de muitos personagens da Bíblia nada mais era que a qualidade e intensidade de vida na presença de Deus.
Rezar pelos doentes é um dever, como é um dever buscar na prece a compreensão da realidade humana. A oração muda o mundo, promove “milagres”, porque muda cada pessoa. Ela leva o que ora a compreender as maravilhas da existência. Torna-o mais humilde e tolerante, mais amável e justo, ensina-o a dar graças pelo que tem em vez de ser desejoso daquilo que ainda não possui ou não pode alcançar. Enfim, a prece molda o caráter das pessoas e lhes ensina a compreender que a vida tem um ritmo próprio e que, mesmo com toda a nossa boa vontade e capacidade há coisas que estão além de nosso alcance.
Bonito e objetivo.
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